quinta-feira, 5 de junho de 2014

Poema de amor

Vísceras
Reto, bexiga, próstata
Tudo arrancado
Exenterado
O que resta?
O olho inchado de lágrimas, boca, sangue
Não diga adeus.
Não desista.
Eu persisto


quarta-feira, 30 de maio de 2012

AMOR ACONTECE

Estou apaixonada...
Ele mal me vê, não sabe meu nome, não me reconhece.
Não interessa.
Chegou já causando tumulto, bagunçando tudo mesmo, mas e daí?
Impossível não te amar.

Nada mais doce que seu sorriso, nada mais indefinido que seu olhar.
Quero te carregar no colo, pra sempre.
Certa do amor que vem pra ficar.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

LICENÇA ANTI-POÉTICA

Me permitam um momento anti-poético.
Detesto política, sempre detestei, mas nem mesmo eu consigo ficar calada.
Me dá nojo e uma imensa tristeza a poupança roubada, o dinheiro na meia, o abuso dos militares.
Me digam, por que "perdoamos" o mensalão? Por que?
O governo de esquerda está no poder e os professores universitários estão em greve, o transporte em São Paulo parou, os bombeiros se revoltaram.
E os médicos? Salário base dos médicos federais que, diga-se de passagem, já é uma vergonha, reduzido em 50%!!
Mais triste ainda é constatar quão desunida é a classe médica. Triste mesmo. 
-"Que se danem os hospitais federais! O que me importa é meu consultório particular." 
-"Paralisação? Pra que? Que Absurdo!" 

Protestar contra a injustiça, a ilegalidade e o abuso de poder é visto por alguns colegas de classe como inútil, ou mesmo ridículo ou errado.
Inacreditável.
Como médica, além de me sentir profundamente desrespeitada e desvalorizada, tenho muita pena dos pacientes.
A equação é simples: médicos mal pagos = maior insatisfação e menor dedicação ao trabalho = piora da assistência.
Assim, os hospitais federais, que ainda oferecem as melhores condições em termos de saúde pública e formação profissional, estão ameaçados.
Quem sofre, como sempre, é a população, os pobres.
Esperava, sinceramente, que a presidenta, recém tratada de câncer, fosse mais solidária com os "companheiros" pobres de saúde e de bolso.
Ingenuidade a minha... Nesse país só o que importa é o próprio umbigo.
Que vergonha.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

CADÊ A CHAVE?


Estava indo pra minha aula de ioga.
Me deparo com meu banheiro infestado por baratas.
Eram baratas pequenas, sorte a minha, mas mesmo assim eram baratas.
Onde será que deixei  aquele spray inseticida que guardo pra situações de crise como essa?
Sumiu! Sim, Murphy existe...
Minha dedetização estava em dia (teoricamente), mas as danadas acharam que meu banheiro ainda era mais seguro que as entranhas do meu prédio recém dedetizado.
Resolvida a catástrofe das baratas, enfim, a aula de ioga.
Chamo o elevador. Ih! Esqueci de checar se sem querer tranquei a gata no armário (ela tem mania disso).
Volto, o elevador desceu, pego o outro.
Pronto. Agora estou presa no elevador. Trinta minutos esperando o técnico.
O que fazer? Gritar? Espernear? Ter falta de ar? Desmaiar?
Sento no chão, checo meus emails pelo celular (o sinal está bom), abro meu livro que sempre carrego na bolsa e sigo pelos capítulos...
Passado o sufoco, me pego pensando qual o sentido disso tudo?
Aparentemente uma maré de azar das brabas...!
Mas também não deixa de ser uma metáfora. Vou tentar explicar.
Existem momentos na vida que nos sentimos exatamente assim: presos onde não gostaríamos de estar, de mãos atadas, impotentes quanto a nosso destino.
O impulso inicial é tentar resolver, apertar todos os botões, socar a porta.
Quando percebemos que nada surte efeito, o mais prudente é esperar, relaxar e aproveitar o momento, otimista de que o socorro logo virá.
Esses momentos quase sempre são precedidos de “baratas”.
E, inevitavelmente, determinados por nossas escolhas...
Se tivesse pego o outro elevador? Se fosse menos preguiçosa e tivesse descido pelas escadas? Se tivesse saído um pouquinho antes?
Se, se, se.
Não tenho resposta pros “ses”.
Só sei que quando saí do elevador, todos estavam chocados com a minha calma.
Serenidade diante do caos.
Paciência.
Namastê.

sábado, 12 de maio de 2012

BEM VINDA CEGONHA

A proximidade do dia das mães por um instante me deixou reflexiva.
Acho que porque boa parte da minha geração já é mãe ou caminha pra isso.
Na verdade, minha irmã está prestes a se tornar mãe.
É um pouco estranho pensar nisso...
Aquela menina que cresceu comigo agora vai parir um bebê!
Como será ele? Sua carinha, seu jeito, suas manias?
Será tímido ou engraçado? Vai gostar de música, de esportes?
Sinto uma felicidade grande por pensar que ele vai ter uma infância inteira pela frente...
Que delícia a infância...!
Suas brincadeiras, suas fantasias...
Uma das maiores benções da infância é que a criança é capaz de compreender o meio e as situações que a cercam sem muitas dúvidas. Do seu jeito infantil.
Essas dúvidas muitas vezes só viram dúvidas na vida adulta e se somam com outras milhões de dúvidas e prioridades, rotinas e certezas... Tudo junto turbilhonado gerando a neurose, a doença, a loucura.
Por isso às vezes, ufa, prefiro ser Alice...

“Boa parte da graça da infância provém do jeito canhoto e literal através do qual as crianças compreendem o que se diz e o que se faz. “Somos todos loucos aqui”, dizia o Gato de Cheshire e nenhuma criança discordaria disso. As cenas sociais podem parecer bem estranhas, indecifráveis aos recém chegados. Focada com a lente infantil, a vida dos adultos parece como a do Coelho Branco, que corre atrás de objetivos insignificantes, a mando de uma rainha enlouquecida, como o Chapeleiro Maluco, que vivia condenado a um eterno chá da tarde, ou como as Rainhas esbaforidas que percorriam seu mundo de tabuleiro com a mesma pressa fútil do Coelho. São as determinações inconscientes que regram a lógica dos sonhos, as mesmas que influenciam decisivamente nossas escolhas, medos, preconceitos, inibições, compulsões e desejos.”

Declaro agora aberta a temporada de resgate da infância na vida adulta. Com sua simplicidade, sua lógica, sua sinceridade.
Quero me apaixonar de novo pelo Peter Pan, jogar bola na rua, chupar sacolé, dançar na chuva, transformar o sofá em nave espacial, ficar toda enrugada por não querer sair da piscina (afinal, é lá que estão os botos, as sereias, os tubarões!).
Venham me visitar! Estarei sentada no tapete ao lado do meu sobrinho, conversando com ele de igual pra igual, viajando nos seus mundos, morrendo de medo dos monstros do armário.
A corrupção, a osteoporose, o imposto de renda – tudo isso pode esperar. Deixa que nossas mães resolvem.

“As melhores e mais duradouras histórias são as que nos permitem sonhar acordados, junto com outras pessoas, assim como nos possibilitam resgatar a lógica da infância e dos sonhos. Graças a elas podemos percorrer lugares maravilhosos, sejam eles lindos ou assustadores, sem medo de enlouquecer de verdade ou de perder as rédeas da nossa vida.”

(Citações de Diana e Mário Corso - http://wp.clicrbs.com.br/terradonunca/2010/03/13/o-que-nos-maravilha-em-alice/)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

VENDO-SE

O que te inspira o olhar de uma pessoa?
Já vi a raiva,
o medo,
a insegurança
Tentei superá-las...
Em vão...
Não se pode mudar o olhar de alguém.
Apenas reconhecê-lo.
Recentemente vi estampado num olhar o lado mais profundo da vida... e o mais triste também...
Em vão tentei neutralizar essa tristeza.
Contraditório o dom de reconhecer olhares... 
Sensibilidade, frustração, impotência
Vi também o olhar mais transbordante de energia
E o olhar do Narciso
Fiquei receosa com excessos...
Excesso de alegria, excesso de auto estima, excesso de si
Pode-se não se saber nada a respeito de uma pessoa,
mas mesmo assim intuir o olhar
Me agrada o olhar doce, 
naturalmente tenro
Sem excessos... Sem medo... Sem tristeza...
Gratificante saber que esse olhar ainda existe
Alice não se interessa pela vida sem ternura.

GARGALHADAS TERAPÊUTICAS

A sala limpa, decoração clássica, livros, pinturas na parede e... o divã. Claro, o divã. Com sua almofadinha, o estofado perfeito, a vista privilegiada.
Imagine o clima formal, reflexivo, a conversa e as pausas.
De repente, a sessão culmina em gargalhadas.
Você já imaginou a sensação de ouvir sua terapeuta rir, com vontade, dos seus pensamentos mais íntimos?
De uma hora pra outra, todas aquelas associações neuróticas, imagens, sonhos e metáforas se tornam simplesmente engraçadas. Até um pouco ridículas.
Mais leve, sem o peso das minhas desgraças mentais, pude rir de mim também.
Rir emagrece a alma.
Rir cura.
Rir de si mesmo abre portas antes trancadas a sete chaves.
Perceber o quanto somos ridículos pode ser libertador.
Somos ridículos quando agimos como crianças mimadas, dramáticas, desesperadas...
Atores de comédia protagonizando um drama.
Papéis trocados, inadequados.
Quem sabe o espelho não ajude resolver essa inversão que criamos diante de nós mesmos?
Terapia do riso, literalmente.